quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CRÔNICA:"UMA HISTÓRIA HORRIPILANTE COM REQUINTES DO OUTRO MUNDO"

                                                                    Do Blog:"Empilhando Palavras"

Numa destas noites frias, noite de lua cheia. Repararam que ninguém se cansa desse clichê e insistem em começar sempre assim? Essas histórias de terror que nos contam vêm sempre recheadas com as diabruras aprontadas por alguma alma penada invariavelmente com a indefectível presença da lua cheia acompanhada de outros infalíveis seres abissais como: mula-sem-cabeça, lobisomem, curupira, boitatá e vez por outra algum saci.Portanto,a minha história promete deixar o leitor de cabelos em pé e vou logo avisando que vou abusar dos clichês!!
Trata-se de um destes ''causos mirabolantes'' e se ao contar, perceberem no ar qualquer sinal de incredulidade, juro de pé junto que nem tudo é lorota.
Iniciaremos, pois, nossa história numa destas noites frias, noite de lua cheia num Hospital de uma cidadezinha do interior, encontrava-me de plantão e já eram altas horas não havia mais ninguém para ser atendido, resolvemos nós da Equipe (Eu o médico, um enfermeiro que atendia pela alcunha de João Pé Frio, era assim chamado por que em seus plantões sempre morria algum paciente,completando a equipe mais duas auxiliares de enfermagem,uma bem nova na profissão ,outra bem mais experiente de aspecto truculento,tendo segundo consta já se passado por médica,mas isso não vem ao caso,resolvemos de comum acordo contar estes "causos" que são ditos de boca em boca,mesmo porque no Hospital naquela noite não havia nenhuma outra alma viva,nem ao menos pacientes internados!!
E logo começa o João a lembrar do pobre coitado que havia passado dessa para melhor no seu último plantão. Sobressaltada a jovem enfermeira, que atendia pelo nome de Virgínia emendou:

-Se for pra vocês começarem a falar sobre estas coisas, eu deixo vocês falando sozinhos e vou-me embora!!

-Embora para onde, menina? Retrucou Rosângela, a enfermeira mais experiente e de aspecto truculento: Ainda não chegou ao fim o nosso Plantão!!A reação da jovem foi o estopim para o João soltar uma sonora gargalhada-que se fez ecoar no sombrio corredor do pequeno Hospital!E logo falou:

-Deixa disso, Virgínia!Os mortos não fazem mal a ninguém, nos devemos ter medo dos vivos, não é Doutor?Uma forma de me fazer participar da conversa,completou:

-O Doutor vive espreitando a morte, e nem por isso tem medo dela, não é Doutor?
Cutucou-o de novo.

-Espera aí Seu João!Não é bem assim... Disse eu.

-Que nada Doutor, vocês não tem medo da morte,e eu também não tenho medo !!
-Que lorota, retrucou a enfermeira Rosângela, o João não tem medo de nada? ...a não ser daquela...  Daquela... História?

-Pode parar agora mesmo, Dona Rosângela por que senão quem irá embora será eu!!

-Ouviu Doutor?O João Valentão esta se borrando de medo, pra não ter que falar outra coisa!!

-Que História é esta, João? Insisti

-Não queira nem saber, Doutor!! Arrematou João.E,eu vou embora,alertou Virgínia,ainda na flor de sua juventude.Daqui ninguém sai,sentenciou a truculenta Rosângela ,que em tom ameaçador continuou-Ajoelhou tem que rezar...ou melhor se chegamos até aqui temos que ir até o fim,não é mesmo Doutor?Imediatamente a tal da Virgínia levantou-se da cadeira e disse:

-Não conte comigo!! Já ouvi esta estória e ela me dá calafrios... vou-me embora!

-Daqui ninguém sai!!Arrematou Rosângela em tom ameaçador e continuou:

-Sei que não é de bom tom falar dos mortos, mas,em se tratando da finada Dona Cacilda,que passou desta pra melhor,chegou aos meus ouvidos,que ela caminha pelos corredores deste Hospital,e que seus gritos de lamentações são terríveis...dizem que pedras são arremessadas contra os vidros das janelas deste Hospital,sabe-se lá porquê!!Resolvi participar da conversa e não escondendo a minha curiosidade arrisquei:

-Suportar esta mulher em vida deveria ter sido um castigo, um martírio?Que pecado ela poderia ter cometido ao longo de sua existência?Perguntei.
Como num piscar de olhos, João prontificou-se a dar explicações:

-Corre a boca pequena entre os funcionários mais antigos do Hospital, não digno de crédito, que a velha bateu a caçoleta neste Hospital,dizem que a coitada já vinha há tempos muito doente e diziam também que a moribunda antes de morrer,quis ser enterrada com todos os seus badulaques...

-Todos os seus o quê?Perguntei rindo. Impassível,continuou o velho enfermeiro:

-Pois é,ela agonizante exigiu ser enterrada com todas as suas jóias ...e olha que não eram poucas.O marido muito esperto, vivaldino.Prontificou-se em fazer a vontade da pobre mulher,mas na noite seguinte após o enterro, sem esperar sequer que o corpo esfriasse na sepultura, desenterrara o caixão ,e roubou todas as jóias da falecida,no caso Dona Cacilda, e depois do fato consumado sumiu pelo mundo de braços dados com sua amante que dizem era uma enfermeira deste Hospital. Até hoje, não sei quem era esta enfermeira e ninguém sabe por onde anda o tal viúvo!Meu caro Doutor trata-se de um caso cabeludo... Convenhamos!!

-Espera aí João!O quê que as pessoas deste Hospital têm a ver com este fato?Indaguei.

-É simples Doutor, a falecida vira e mexe sempre volta do além para vingar-se do que lhe fizeram!!Dizem que ela sempre aparece para atormentar as pessoas deste Hospital com seus gritos de lamentações e atirando pedras nas janelas dos quartos!!Indignado reagi:

-Tenha vergonha nesta cara, João!!Inventar uma história destas para amedrontar suas colegas enfermeiras!!Veja a situação da pobre da Virgínia toda encolhida e morrendo de medo com estas suas estórias inverídicas!!

-Ora, Doutor!Tenha calma!Não me pergunte mais nada.Mesmo porque fantasma é fantasma e só faz o que lhe aprouver.E no mais eu não tenho nada a ver com isso...Estou vendendo o peixe como comprei...
Logo aparteou Rosângela:

-O fato é que coisas estranhas começaram a acontecer e continuam acontecendo. Pedras são arremessadas,vidros aparecem quebrados,gritos de lamentos são ouvidos e todos estes fatos são abafados pela direção do Hospital ,que não admite que este assunto seja ventilados entre a população local.Para eles quem morre, morreu, não volta, e tome demissão a quem se opor. Coitados.

Neste instante uma risada ecoou, alta,sarcástica.Não tenham dúvidas era eu mesmo,bancando o sabichão no assunto dos outros.E sem mais ou menos, resolvi meter meu bedelho:

-Trata-se de uma lenda que é fomentada para intimidar e amedrontar vocês e para justificar alguma demissão injusta!!Não compactuem com esta patifaria!!

Fez-se um silêncio mortal, todos se entreolharam, até mesmo a Virgínia esboçou descontentamento com minha opinião. Pudera são pessoas simples e ingênuas o que poderia eu mais esperar.Levantei-me balancei os ombros demonstrando minha incredulidade,desejei boa noite e em seguida retirei-me para os aposentos dos médicos.Confesso,foi muita aporrinhação,eu não agüentava mais aquela estória tola!E a caminho do quarto dos plantonistas cheguei a pensar se o fantasma me aparecesse mesmo iria esconjurá-lo e mandá-lo de volta pro breu de onde saiu!!Esbocei neste momento um sorriso amarelo.
Já no quarto debaixo das cobertas protegido do rigoroso frio daquela noite, comecei a cochilar. Entretanto, meu sangue quente de espanhol, que estranhamente, não havia sido molestado, resolveu acabar com aquilo. O suor já me escorria em gotas quando comecei ouvir um pequeno tilintar no vidro da janela do quarto. Sobressaltado dei um pulo na cama, meu coração palpitava já era evidente a taquicardia, mas não atrevia a levantar-me para ir verificar. Preferi ficar no aguardo se tal situação iria persistir e por vias das dúvidas cobri a cabeça com o cobertor, mesmo com a sudorese fria escorrendo pela minha tez.
Janela com vidros quebrados
 Não demorou muito e uma avalanche de pedras atingiu em cheio o vidro da minha janela, estilhaçando varias partes do mesmo. Não tive dúvidas, diante de fato tão convincente e mesmo com as pernas bambas só restou-me correr e foi o que fiz naquele momento, e nem sequer olhei para trás.
Desta vez,tive a certeza que tratava-se da alma penada da finada Dona Cacilda que voltou dos quintos dos infernos para infernizar o mundo dos vivos.Corri até o Posto de Enfermagem para encontrar-me com os colegas de trabalho e colocar-lhes à par do sucedido.Qual a minha surpresa ao constatar que eles vinham correndo ao meu encontro.A correria era geral...sei não... Melhor sair da frente... Pensei, mas fui logo interpelado pelo esbaforido João, que estava pálido e logo foi alardeando em alto e bom som o sucedido:

-O Doutor ouviu os gritos de lamentos... Ouviu... Ouviu??
Então retruquei: Não!! Mas os vidros da janela do meu quarto estão todos estilhaçados!!Cara... Estou apavorado, então era verdade o que vocês me contaram sobre a tal Sra. Cacilda?

-Não te falei... Não te falei... Insistia, João. Mas o senhor se fez de arrogado e não nos deu ouvidos!!

-O quê faz nesta situação?Perguntei aflito.

-Correr e gritar por socorro!!Sugeriu a Rosângela. Estou com o corpo todo trêmulo e sinto um arrepio correndo a espinha, apressou em dizer.

-Valha-me minha Nossa Senhora!!Retrucou Virgínia; Eu me urinei toda!!Exclamou ainda assustada e preocupada com a sua situação fisiológica.

-Não podemos nos dispersar, disse João, esfregando as mãos úmidas de suor e tentando não demonstrar nervosismo.

Enquanto o grupo discutia entre si, o quê fazer. Eu já tinha decidido. Resolvi às pressas dirigir-me até a porta de saída daquele nosocômio,consultei o meu relógio,que marcava 5:30 horas da manhã,daquele fatídico julho,avistei através de uma janela a densa neblina que se fazia lá fora,mas não pensei duas vezes saí correndo ao encontro do meu carro ,adentrei o veiculo,liguei o motor e sem titubear arranquei-me daquele lugar em alta velocidade mesmo com o perigo da densa neblina .Só parei quando cheguei ao meu destino são e salvo.Se não tivesse o recurso de um carro,certamente estaria correndo até "hoje"!!
Nunca mais voltei naquele lugar, nem para receber pela paga do plantão. Vergonha?...Medo?... Ou talvez uma mistura destes dois sentimentos. Sobre o fato, mais calmo ponderei: Poderia ter sido uma brincadeira?Se for, foi de muito mau gosto e com toque de crueldade!! Quanto ao João, a Rosângela e a Virgínia são nomes fictícios, mas estas pessoas existem, mas eu nunca mais as vi. Hoje tenho comigo uma certeza:

LOS FANTASMAS I NO CREEN, SINO QUE ESO EXISTEN, ELLOS EXISTEN!
FANTASMAS EU NÃO CREIO, MAS QUE ELES EXISTEM,EXISTEM!

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