Na China do século 10, muitas meninas eram
obrigadas a imobilizar os pés com faixas de algodão ou seda a maior parte do
tempo, até que eles se deformassem de modo irreversível. Na idade adulta, o
chamado "pé de lótus" (por lembrar o formato da flor) media, no máximo, oito
centímetros de comprimento. Quanto menores as dimensões, maior a excitação que
provocariam, os pezinhos eram alvo de adoração e tesão dos homens, que os
beijavam e os empregavam para massagear seus pênis.
Os costumes
evoluíram. A trajetória das chinesas, porém, remete a um dos mais antigos
fetiches cultivados pelo ser humano, e nas mais diversas culturas: a adoração
dos pés e seu uso como componentes sexuais. Na psicologia, esse fetiche é
considerado uma parafilia, nome dado ao padrão de comportamento sexual em que a
fonte predominante de prazer não se encontra na relação em si, mas em outras
atividades, como idolatrar determinada parte do corpo, como a
podolatria.
"Alguns podólatras têm ereção só de contemplar os
pés de uma mulher", conta uma terapeuta sexual, que diz que a maior parte dos
fetichistas pertence ao sexo masculino.
Segundo a sexóloga, psicóloga e
presidente da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade), a diferença entre quem
admira essa parte da anatomia e um podólatra é que, para o segundo, somente o pé
é fonte de deleite. "Esse indivíduo obtém satisfação sexual através da
sexualização dos pés de outra pessoa. E somente a observação, os toques e as
carícias dessa parte do corpo são capazes de proporcionar prazer", explica
ela.
O desejo sempre é motivado por pés bonitos e bem
tratados."E também é comum que o fetichista peça para a parceira usar meias e as
tire bem devagar", afirma ela.
E ainda de acordo com ela,à adoração dos pés e
o fato de a podolatria ainda não ser encarada como algo natural, muitos
fetichistas costumam frequentar lugares específicos para praticar jogos
sexuais.
Frequentadores de espaços fetichistas, assim
como pessoas que mantêm páginas na internet e perfis nas redes sociais para
trocar ideias sobre o assunto, em geral, preferem se manter no anonimato e usar
codinomes. Uma das razões é que os parceiros fixos nem sempre compartilham da
mesma fantasia.
E como são os jogos? Muitos podólatras se
contentam em tocar e acariciar os pés femininos. Outros preferem beijar ou
lamber. "Nem sempre há excitação imediata na pessoa que tem os pés lambidos. O
que vai estimulá-la é se sentir desejada, apreciada, idolatrada", diz a
sexóloga. Mas existe, sim, quem se excite com os carinhos nessa região, afinal,
os pés são ricos em terminações nervosas.
Para quem quer experimentar
"Casais não fetichistas podem e devem
explorar melhor as sensações dos pés durante suas transas", afirma a sexóloga.
Uma dica é usar óleos de massagens nas trocas de carícias, estimulando
sensorialmente a planta ou o peito do pé, os dedos, os vãos entre
eles.
"É possível, também, brincar com diferentes temperaturas, passando
gelo ou sorvete sobre a pele dos pés para causar arrepios para logo em seguida
aquecê-los com suaves beijos e lambidas. Vale utilizar cremes comestíveis ou polpa de
frutas para lambuzar os pés e, em seguida, sorvê-los, brincar com texturas e
fazer cócegas, deslizar os pés sob o corpo do outro. Tudo depende do gosto
pessoal", explica.
Já a terapeuta sexual afirma que o comum para uns
pode causar estranhamento. "É difícil estabelecer parâmetros do que é normal ou
não no comportamento sexual humano; não há limite ideal afixado ou tabelado; não
é matematicamente explicado", diz. No entanto, se o fetiche começar atrapalhar a
rotina social ou profissional, e desviar a pessoa de suas responsabilidades, e a
prejudicar a vida afetiva, limitando a escolha das relações, é hora de buscar
ajuda profissional.